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    As causas da vantagem nacional vão muito além da disponibilidade de mão de obra e matéria-prima. Este estudo aprofundado da evolução de 10 países desde o pós-guerra até a década de 1980 oferece um enquadramento útil para avaliar a capacidade econômica e o momentum nacionais. Embora a pesquisa de Michael Porter analise um período de tempo limitado, o escritor seminal e professor da Harvard Business School desenvolveu um método claro para distinguir a causa e o efeito em economia e para desmistificar tendências globais complexas. Sua análise dos quatro vértices do diamante da vantagem nacional na economia mundial permanece pertinente e aplicável. Porter diz que alguns leitores podem preferir atalhos através do livro de quase 900 páginas. Com esse objetivo, ele estrutura o conteúdo do livro em seções temáticas independentes. A getAbstract recomenda esta brilhante explicação das causas do crescimento ou declínio de alguns setores e dos países a que pertencem, no calor da competição mundial.

    Ideias Fundamentais

    • A globalização provocou grandes mudanças na competitividade econômica das nações, em benefício de alguns países e prejuízos de outros.
    • Para representar os determinantes da competitividade nacional, visualize-os como um diamante de quatro vértices.
    • Primeiro, um país precisa de fatores de produção fortes tais como mão de obra e recursos naturais.
    • Segundo, um país precisa ter aglomerados de empresas, fornecedores e indústrias em colaboração.
    • Terceiro, o desenvolvimento econômico de um Estado depende da dimensão e natureza da demanda interna de bens e serviços.
    • Quarto, o crescimento dos setores nacionais baseado na vitalidade da sua concorrência doméstica.
    • Um país que tenha uma desvantagem competitiva deverá usar isso como impulso para criar uma vantagem que a compense.
    • Quando o decréscimo da competitividade nacional se inicia, é muito difícil reverter a situação.
    • Os fatores de produção, investimento, inovação e riqueza conduzem a diferentes etapas de desenvolvimento competitivo de um país.
    • A política governamental deve influenciar, não ditar, a vantagem competitiva.

    Resumo

    O brilho dos diamantes

    Depois da II Guerra Mundial, a globalização provocou grandes mudanças na competitividade econômica das nações, em benefício de alguns países e prejuízos de outros. Ela também está suscitando questões novas sobre como um país pode competir economicamente com o resto do mundo. Mas os teóricos continuam em desacordo sobre as razões para estas variações na vantagem econômica. O melhor indicador da vantagem econômica nacional é a produtividade da mão de obra. A produção por trabalhador deve ser o ponto central de qualquer análise de competitividade nacional. Uma produtividade crescente é o sinal mais claro de que um país tem setores fortes com posições de liderança nos mercados globais. Outros alegados fatores de competitividade nacional – incluindo o baixo custo da mão de obra e superávits comerciais, entre outros – são medidas enganosas da força e momentum competitivo de um país. Idealmente, a internacionalização da economia de um país terá um impacto positivo no seu crescimento, mas ela enfraquecerá a competitividade nacional se os setores deslocarem os empregos mais qualificados para os mercados externos e mantiverem os empregos menos qualificados no mercado interno.

    Quatro “determinantes da vantagem competitiva nacional”

    Uma estrutura de quatro pontos, considerados como os vértices de um diamante, permite uma abordagem analítica interessante na avaliação da competitividade nacional. Os quatro vértices do diamante de um país determinam o desenvolvimento ou colapso de todos os setores que operam dentro de suas fronteiras, e cada diamante nacional tem vantagens e desvantagens para cada setor específico. Os quatro determinantes da competitividade econômica de um país – ou os quatro vértices do diamante – são: 1) sua disponibilidade de fatores de produção tais como mão de obra, recursos naturais e infraestrutura; 2) a presença de aglomerados de empresas, fornecedores e indústrias em colaboração; 3) a dimensão e natureza da demanda interna de bens e serviços; e 4) o grau de rivalidade doméstica dentro dos setores.

    “Os países, em grande medida, estão ou a avançar ou a atrasar-se no processo de melhoria da vantagem competitiva. Ficar imóvel é difícil.”

    Em geral, estes quatro determinantes interagem de uma maneira revigorante e movem o diamante nacional de cada setor para uma posição melhor, ou pior, relativamente à sua concorrência externa. Por exemplo, a presença de compradores sofisticados e exigentes no mercado interno pode aumentar a concorrência entre as empresas, o que promove inovações nos bens e serviços que, por sua vez, elevam as expectativas dos compradores. A ausência de compradores internos sofisticados, por outro lado, comprometerá os esforços de um setor para atingir a liderança no mercado global.

    “A busca da competitividade definida como um superávit comercial, uma moeda fraca ou baixos salários contém muitos equívocos e armadilhas.”

    Os vários setores que operam sob as mesmas condicionantes terão resultados e perspectivas diferentes. As empresas se expandem em alguns países e se retraem em outros, em função da influência dos determinantes da competitividade nacional sobre os seus setores. As perspectivas de quase todos os setores melhoram em países em que o ambiente empresarial permite o avanço e inovação.

    Competitividade nacional em setores selecionados

    Nenhum país pode ser competitivo (e ser um exportador líquido) em tudo. Contudo, os produtos especializados são sustentáveis. Cada país tem vantagens especiais que outros podem não possuir e podem tentar reproduzir. Muitos países tentam preservar as suas vantagens econômicas em vez de aumentá-las; de fato, identificar e melhorar as vantagens econômicas existentes é melhor política do que tentar criar novas.

    “Poucos fatores de produção são realmente herdados por um país. A maioria precisa ser desenvolvida ao longo do tempo, através do investimento.”

    O desenvolvimento de quatro setores após a II Guerra Mundial – a indústria alemã de máquinas de impressão, a indústria americana de equipamento de monitoramento de pacientes, a indústria italiana de azulejos e a indústria robótica japonesa – ilustra as diferenças entre os determinantes da competitividade nacional. No fim da década de 1980, todos estes quatro exemplos eram líderes internacionais em seus setores:

    1. A falta de mão de obra no Japão, um fator crítico de produção, contribuiu para a sua ascensão como uma força competitiva no campo da robótica.
    2. Na Alemanha, a formação do aglomerado de empresas correlatas beneficiou o setor das máquinas de impressão, com a presença de produtores de tinta, papel e produtos químicos.
    3. A liderança dos EUA no mercado mundial de equipamento de monitoramento de pacientes surgiu parcialmente a partir de compradores domésticos sofisticados, tais como universidades, hospitais e clínicas. Os gastos com produtos e serviços médicos é relativamente alto nos EUA. O aglomerado de fornecedores líderes de semicondutores, computadores e software ajudou o seu setor de equipamento de monitoramento de pacientes a crescer internacionalmente.
    4. Na Itália, a rivalidade doméstica no setor contribuiu para a liderança global do país na produção de azulejos. Produtores e fornecedores concentram-se na região de Sassuolo. Eles competem de forma intensa uns com os outros, muitas vezes em segmentos de mercado especializados.

    Transformando desvantagens em vantagens

    A falta de um tipo de vantagem nacional pode ajudar a criar benefícios que a compensem. Por exemplo, o governo japonês encorajou as empresas nacionais a desenvolver a tecnologia de automação industrial para contrabalançar a falta de mão de obra. Com isso, o governo incentivou um setor doméstico de robótica muito competitivo, que conseguiu expandir-se e dominar o mercado externo. O conhecimento especializado na instalação de robôs fabris foi aplicado a diversos setores e contribuiu para uma melhoria de longo prazo da qualidade global da fabricação de automóveis, eletrodomésticos e muitos outros bens.

    “A atitude face à riqueza (…) varia de país para país. Ela é um grande fator de motivação nos EUA, enquanto na Suécia é olhada com alguma suspeição.”

    O governo italiano tem um histórico de colocação de obstáculos burocráticos ao crescimento econômico. Por isso, os líderes empresariais italianos são peritos em contornar os obstáculos ao crescimento e rentabilidade, em vez de se renderem a eles. Na Suécia, o governo impôs um sistema salarial solidário que diminuía as diferenças entre os salários mais altos e os mais baixos. O sistema manteve os níveis salariais suecos acima dos de muitos outros países, e isso provocou grandes revisões de custos dos produtores suecos de têxteis, construção naval e outras empresas com grande folha salarial, que foram mais rápidas e menos perturbadoras do que em outros lugares.

    Perdendo a vantagem competitiva

    Mesmo os diamantes nacionais imperfeitos podem ajudar as empresas a atingir relevância internacional. Setores selecionados podem prosperar mesmo se um dos determinantes de competitividade nacional é negativo para o seu setor econômico. Mas as desvantagens econômicas podem se acumular e o diamante do país perder o brilho – isto é, até que todos os quatro pontos fiquem negativos. Um momentum negativo em todo o espectro da vantagem nacional é difícil de reverter, como mostra a história econômica britânica. O Reino Unido perdeu grande vitalidade econômica desde o fim da II Guerra Mundial até a década de 1980, mas o declínio do diamante nacional começou muito antes da guerra.

    “A prosperidade econômica nacional não é um jogo de soma-zero em que um país ganha à custa dos outros.”

    A educação, que é geralmente um importante fator de desenvolvimento da força de trabalho, foi um dos principais responsáveis. Um estudo mostra que as habilidades no local de trabalho se atrasaram severamente no Reino Unido, em comparação com outros países. As falhas do sistema educacional britânico incluem a desvalorização das áreas práticas nos currículos das universidades e a falta de apoio às escolas técnicas. O crescimento lento dos salários e a baixa demanda interna pouco fizeram para preparar as empresas britânicas para competir com êxito nos mercados externos. Quando os compradores têm expectativas altas, eles pressionam as empresas domésticas a oferecerem mais valor, o que pode levar essas empresas a serem mais competitivas no exterior. Mas os consumidores britânicos não exigiram mais das empresas; eles estão mais conformados com os bens e serviços de qualidade baixa do que os consumidores em outros países.

    “As empresas, não os países, competem nos mercados internacionais.”

    A competitividade econômica dos EUA vacilou sem enfraquecer. A América manteve a sua liderança na indústria aeroespacial, biotecnologia, produção de software e em outros campos; mas perdeu terreno em outros setores, como a fabricação de automóveis, máquinas-ferramentas, chips de computador e produtos eletrônicos de consumo. Apesar do investimento relativamente alto em educação, existe uma alta taxa de analfabetismo funcional na força de trabalho dos EUA.

    As quatro etapas do desenvolvimento competitivo nacional

    Ao desenvolver a sua competitividade global, cada país está em uma de quatro etapas:

    1. A etapa impulsionada pelos fatores – O baixo custo da mão de obra, matéria-prima e outros fatores de produção caracterizam esta etapa, em que se encontra a maioria dos países em desenvolvimento. A vantagem econômica do baixo custo da mão de obra e materiais pode ser efêmera, e os países terão dificuldade em suportar o crescimento na produtividade da mão de obra.
    2. A etapa impulsionada pelo investimento – Neste ponto, as empresas em crescimento oferecem mais dinheiro pela mão de obra, material e outros fatores de produção. Os setores se beneficiam da demanda crescente no mercado interno. As habilidades da força de trabalho se tornam mais diversificadas e sofisticadas à medida que as instituições se ajustam às maiores exigências do local de trabalho.
    3. A etapa impulsionada pela inovação – Nesta fase, o país tem seu diamante otimizado. Em conjunto, os quatro determinantes da competitividade nacional encorajam o investimento e inovação contínua, que são vitais para o processo dinâmico de melhoria das vantagens econômicas do país. Nesta etapa criativa, um número crescente de setores desfruta dos resultados da interação revigorante dos quatro pontos do diamante.
    4. A etapa impulsionada pela riqueza – Um país nesta fase de seu desenvolvimento competitivo descansa sobre os louros e torna-se menos dominante na economia mundial. Seu diamante perde o brilho por muitas razões, incluindo a redução de incentivos ao investimento, aumento do investimento das empresas em aquisições não relacionadas com o seu negócio essencial, e redução dos gastos em pesquisa e desenvolvimento. As empresas tendem a colher os benefícios da sua posição no mercado em vez de investirem na criação de novas e melhores vantagens competitivas.

    Implicações políticas

    O setor privado tem a maior parte da responsabilidade no aumento da competitividade de um país, embora o governo possa facilitar o processo. As associações comerciais devem fazer mais para aumentar a competitividade dos seus setores. Muitas vezes, em nome de setores vulneráveis, os grupos comerciais fazem pressão para ter proteção contra a concorrência estrangeira, flexibilizar as normas de defesa da concorrência, conseguir negócios garantidos com agências governamentais de compras e outras medidas legislativas que reduzem a competitividade. As políticas governamentais não são, por si só, suficientes para garantir a vantagem competitiva de um país. Embora o comércio global tenha crescido desde a II Guerra Mundial, o governo ainda influencia a competitividade nacional. O governo não determina a competitividade, mas ele desempenha um papel de apoio. A diminuição das barreiras ao comércio não encobre as lacunas da competitividade nacional; ela amplifica-as.

    “A acomodação e um foco introspectivo geralmente explicam por que os países perdem vantagem competitiva.”

    Dar subsídios diretos governamentais a certos setores é uma forma duvidosa de promover a competitividade nacional. Os incentivos fiscais são melhores para esse fim porque são benefícios contingentes que encorajam as empresas a escolher somente investimentos que deem lucro. O governo precisa reconhecer que o diamante é um sistema e, como tal, as políticas que visam um ponto do diamante podem influenciar os outros pontos. O papel do governo é encorajar os setores a aumentar as suas vantagens competitivas através do investimento, inovação e melhoria, e evitar o falso encanto da concentração, colaboração e proteção.

    O papel do acaso

    Os quatro determinantes da vantagem competitiva nacional e o papel do governo podem não explicar, por si só, a ascensão de todos os setores bem-sucedidos. A sorte também tem um papel. Acontecimentos fortuitos – tais como a guerra, aumentos súbitos da demanda global ou decisões políticas em outros países – criam descontinuidades que permitem mudanças nas posições competitivas e mudam a posição dos elementos no diamante. Por exemplo, o setor coreano das perucas prosperou quando a América proibiu a sua importação da China durante a Guerra Fria. A forma como um país aproveita as vantagens dos acontecimentos fortuitos depende da força de seu diamante.

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